Rio de Janeiro, 17 de Maio de 2024

Mensagem ao Presidente Lula - Por Mário César de Camargo

Ano velho, notícias redundantes!
 
É, o Brasil continua o mesmo no ocaso de 2006. Baixo crescimento, desemprego de 11%, perversa distribuição de renda, criminalidade fora de controle, saúde e educação precárias.
O Estado, como se não fosse organismo de um país democrático e pluralista, mantém o autoritarismo fiscal, o mais absoluto desdém com as questões sociais, o desprezo às atividades produtivas e a irresponsabilidade quanto às suas obrigações constitucionais.
        
 
Essas observações podem parecer muito ácidas num momento em que todos preparam-se para as festas de final de ano. Entretanto, refletem a nossa mais autêntica situação como país, uma terra movida, na raça, na coragem, criatividade e esforço de superação, pelo capital e trabalho. Juntos, empresários e trabalhadores, sustentando um Estado imprevidente, preguiçoso e oneroso para a sociedade, subvertem o conceito de mais valia do velho Karl Marx. Tivesse ele a mínima suposição de que, em pleno Século XXI, haveria um Estado como o brasileiro, talvez não tivesse ousado formular a tal ditadura do proletariado...
        
 
O pior é que nosso setor público sequer age como Robin Hood. Ao contrário, ceifa a riqueza e ignora a pobreza, numa gestão desastrosa e anacrônica. O Brasil não tem escolas e hospitais públicos de qualidade, não realiza programas habitacionais adequados, não tem infra-estrutura, controla inflação com metodologia que até o FMI considera superada, não tem política industrial e econômica voltada ao crescimento, não protege a Amazônia, não distribui renda e, apesar de tudo isto, o Estado arrecada mais de 37% do PIB. As entidades de classe, como a Abigraf, que devem conciliar representatividade setorial e a mobilização política em favor do desenvolvimento, têm feito grande empenho no sentido de sugerir, reivindicar e participar de um processo mais moderno de gestão da economia, mas o Estado, em sua auto-suficiência, não costuma ouvir muito a sociedade civil organizada...
        
 
Em 29 de outubro, excelentíssimo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o senhor foi reeleito para seu segundo mandato, com mais de 58 milhões de votos, expressando a infinita esperança de um povo que consegue continuar acreditando na democracia como agente de redenção da Pátria. Desde 1984, quando esta mesma gente foi às ruas, clamando civicamente pelo restabelecimento das eleições diretas para presidente da República, lá se vão 22 anos. Desculpe, mas, com exceção do direito ao voto, inegável avanço institucional, muito pouco mudou neste país.
        
 
O mundo transformou-se. A globalização eclodiu, alterando os conceitos de mercado e concorrência, o Século XX acabou e, com ele, ficaram apenas como registros históricos o populismo eleitoral, o monetarismo exacerbado, a governança aética, a estratificação social em castas, o desprezo ao ensino como base da prosperidade e o paternalismo como fator atenuante do subdesenvolvimento. Nesta nova era, até mesmo organismos movidos pelo mais puro capitalismo selvagem, como o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento Econômico e o Fundo Monetário Internacional, passaram a defender políticas públicas equilibradas entre o crescimento e o controle da inflação, melhor distribuição de renda e inclusão social por meio do trabalho e universalização dos direitos inerentes à cidadania.
        
 
Presidente, por que o Brasil continua o mesmo?
Lá se vão 22 anos desde que políticos do PT e do PSDB, ao lado de outras agremiações, discursaram — de mãos dadas e braços erguidos — em prol da democracia e do desenvolvimento. Ironicamente, os dois partidos têm bipolarizado as disputas eleitorais, como foi agora para a Presidência da República e, no exercício do cargo, desrespeitam seus próprios conteúdos programáticos de forte cunho social, exacerbando na prática o neoliberalismo que condenam no discurso.
 
 
Foram dois mandatos inteiros dos tucanos, com Fernando Henrique Cardoso, e um mandato inteiro do PT, sob sua administração, mas o Brasil continua o mesmo!
 
Presidente Lula, o povo acaba de lhe delegar o direito e o dever de trabalhar com ele e para ele. Apesar do atraso, ainda é tempo de reconstruir o futuro.
 
Vamos mudar o destino desta Nação?
 
 
 
*Mário César de Camargo, empresário gráfico, administrador de empresas e bacharel em Direito, é presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf).
 

Crédito:Mário César de Camargo

Autor:Mário César de Camargo

Fonte: