Assim como não apetecia a Lula a cozinha do governo, deslumbrado com o status de líder na cruzada contra a pobreza, Zé Dirceu também ficou longe das malas de dinheiro e da transfusão de sangue nos intestinos da organização. Preocupou-se tão-somente com que a gestão da origem dos recursos a serem arrecadados e a sua destinação estivessem a cargo de um verdadeiro profissional, com experiência de varejo.
E lavou as mãos. Respaldado pelo seu preparo e inteligência que lhe conferem um orgulho acima das coisas terrenas. Pensou que sua trajetória de luta armada em prol de uma ditadura do povo fosse passado morto. Ganhou uma nova cara - já não era mais virgem de rosto - com o restabelecimento da ordem democrática e veio a sair da encolha no governo Lula. Sem o menor pejo de jogar na lama o título de campeão da moral e da ética com que o PT batia no peito. A ponto de conquistar o reconhecimento impossível, uma reputação partidária invejada até pelo Enéas.
Mas a maior traição a princípios aconteceu debaixo do nosso nariz. A trinca Lula, Palocci e Meirelles tecendo uma política econômica tão do agrado do governo norte-americano e dos mais empedernidos inquisidores das CPIs dentre tucanos e pefelistas, defendida com a faca nos dentes por eleitores que só votam pensando na sua carteira de ações e na estabilidade do mercado.
Quem começou a trair primeiro, Lula ou Zé Dirceu?
Não existe a figura de impeachment para quebra de decoro do presidente correlacionada a promessas e compromissos não cumpridos com 53 milhões de eleitores, privilegiando superávits e juros em detrimento de saúde e segurança.
Seus inimigos vão fazê-lo sangrar para chegar fraco e desmoralizado nas próximas eleições. Até como vendeta, para nunca mais elegermos um presidente que sirva de exemplo para as camadas mais pobres pretenderem ascender ao poder. A eleição de Lula foi uma ofensa ao clube da elite, que teve de engolir calado.
Crédito:Antonio Carlos Gaio
Autor:Antonio Carlos Gaio
Fonte:Universo da Mulher