Tem francesa no Largo do Boiadeiro. Mais precisamente Solange Watel, fotógrafa e editora de moda da revista francesa 20 ans. Atenta ao caldeirão de cores, sons, cheiros e tipos que fervem às 11h da manhã na Rocinha, cada passo é um clique exotique chic .
Se tem coisa que deixa francesa maluca principalmente se ela for do mundo fashion e se passou a infância no Brasil, como é o caso de Solange é sandália havaiana e santo. No Largo do Boiadeiro ela encontrou uma mina de havaianas (as legítimas, vendidas quase como ouro na Galeries Lafayette em Paris), deslumbrou-se com o colorido das piranhas (o pregador de cabelo e não o peixe) e comprou quase todos os santos de uma casa de umbanda: uma iemanjá, a cabocla Jurema da Mata, o índio Cobra Coral. Mas custou a convencer a dona a fotografar pelo menos um pedacinho do lugar:
Dá quezila (problema, olho grande). Não preparei os santos para a fotografia explicou Vitória.
No embalo nordestino dogrupo de forró Calcinha Preta
Clínica dentária Sorridente, Sacolão da Felicidade de Deus, Peixaria Furacão dos Mares, de loja em loja, letreiro em letreiro, a gente vai passando pela Rua Servidão Leste. Trilha sonora é o que não falta e Sula Mino, dona da CD.com, explica à nossa francesa de plantão como é gostoso o nosso forró.
O rei do forró romântico é o grupo Calcinha Preta com músicas como Hello e Cobertor. Ano passado, eles lançaram o CD aqui no Emoções, nossa casa de espetáculos. Temos o Lambadão Styllus, o Gaviões do Forró e o cantor do brega romântico horrível, Bartô Galeno. O pessoal gosta de dançar e ouvir Bartô Galeno tomando cerveja no bar à noite conta Sula.
Sucesso do Bartô: Carro-hotel, em que canta: Encontrei no porta-luva o lencinho que você esqueceu e num cantinho bem bordado o seu nome... . Do estilo naïf (inocente) no frango ilustrando uma loja de aves ao visual pop do painel numa das esquinas, o Largo do Boiadeiro é arte pura... Vida dura, num grupo de garotos que vaga, meio deslocado, com os olhos esgazeados na primeira trip matinal... E ponto turístico cada vez mais visitado por grupos, que se impressionam com a organização da comunidade.
Solange: vontade de comerbuchada e moído de cabrito
No Rio desde 1920, quando era uma fazenda que recebia gente de Minas e de Campos, a Rocinha teve, a partir de 1975, uma explosão nordestina. Hoje, segundo Paulo Cesar Martins Vieira, presidente da Associação de Moradores e amigos do Bairro Barcellos, 99% dos habitantes são nordestinos ou descendentes.
O seu Boiadeiro existiu mas partiu nos anos 70. Fui precursor do turismo aqui trazendo em 1972 o primeiro estrangeiro. Eu era moleque, tinha 11 anos e trabalhava como engraixate no hotel Nacional. Hoje recebemos mais de dez mil turistas por ano conta Paulo Cesar, mais conhecido como Amendoim.
Razão do apelido: quando era pequeno foi comprar feijão e confundiu feijão com amendoim.
Comi no meio do caminho e achei uma beleza conta Paulo Cesar, que acha um absurdo o uso da palavra Slam (chiqueiro em inglês) para indicar a Rocinha nos mapas turísticos do Rio.
Solange quer voltar com mais calma. Não teve tempo de provar a buchada nem o moído de cabrito do bar Reriutaba.
Você atravessa a rua e encontra o Fashion Mall do outro lado. Mas, de certa forma, o Largo do Boiadeiro tem mais vida.
Se tem coisa que deixa francesa maluca principalmente se ela for do mundo fashion e se passou a infância no Brasil, como é o caso de Solange é sandália havaiana e santo. No Largo do Boiadeiro ela encontrou uma mina de havaianas (as legítimas, vendidas quase como ouro na Galeries Lafayette em Paris), deslumbrou-se com o colorido das piranhas (o pregador de cabelo e não o peixe) e comprou quase todos os santos de uma casa de umbanda: uma iemanjá, a cabocla Jurema da Mata, o índio Cobra Coral. Mas custou a convencer a dona a fotografar pelo menos um pedacinho do lugar:
Dá quezila (problema, olho grande). Não preparei os santos para a fotografia explicou Vitória.
No embalo nordestino dogrupo de forró Calcinha Preta
Clínica dentária Sorridente, Sacolão da Felicidade de Deus, Peixaria Furacão dos Mares, de loja em loja, letreiro em letreiro, a gente vai passando pela Rua Servidão Leste. Trilha sonora é o que não falta e Sula Mino, dona da CD.com, explica à nossa francesa de plantão como é gostoso o nosso forró.
O rei do forró romântico é o grupo Calcinha Preta com músicas como Hello e Cobertor. Ano passado, eles lançaram o CD aqui no Emoções, nossa casa de espetáculos. Temos o Lambadão Styllus, o Gaviões do Forró e o cantor do brega romântico horrível, Bartô Galeno. O pessoal gosta de dançar e ouvir Bartô Galeno tomando cerveja no bar à noite conta Sula.
Sucesso do Bartô: Carro-hotel, em que canta: Encontrei no porta-luva o lencinho que você esqueceu e num cantinho bem bordado o seu nome... . Do estilo naïf (inocente) no frango ilustrando uma loja de aves ao visual pop do painel numa das esquinas, o Largo do Boiadeiro é arte pura... Vida dura, num grupo de garotos que vaga, meio deslocado, com os olhos esgazeados na primeira trip matinal... E ponto turístico cada vez mais visitado por grupos, que se impressionam com a organização da comunidade.
Solange: vontade de comerbuchada e moído de cabrito
No Rio desde 1920, quando era uma fazenda que recebia gente de Minas e de Campos, a Rocinha teve, a partir de 1975, uma explosão nordestina. Hoje, segundo Paulo Cesar Martins Vieira, presidente da Associação de Moradores e amigos do Bairro Barcellos, 99% dos habitantes são nordestinos ou descendentes.
O seu Boiadeiro existiu mas partiu nos anos 70. Fui precursor do turismo aqui trazendo em 1972 o primeiro estrangeiro. Eu era moleque, tinha 11 anos e trabalhava como engraixate no hotel Nacional. Hoje recebemos mais de dez mil turistas por ano conta Paulo Cesar, mais conhecido como Amendoim.
Razão do apelido: quando era pequeno foi comprar feijão e confundiu feijão com amendoim.
Comi no meio do caminho e achei uma beleza conta Paulo Cesar, que acha um absurdo o uso da palavra Slam (chiqueiro em inglês) para indicar a Rocinha nos mapas turísticos do Rio.
Solange quer voltar com mais calma. Não teve tempo de provar a buchada nem o moído de cabrito do bar Reriutaba.
Você atravessa a rua e encontra o Fashion Mall do outro lado. Mas, de certa forma, o Largo do Boiadeiro tem mais vida.
Crédito:Fatima Nazareth
Autor:Heloísa Marra
Fonte:O Globo