Rio de Janeiro, 21 de Maio de 2024

I love PE

Pernambuco está cada vez mais fashion. Ícones da cultura do chamado leão do norte — como os caboclos de lança do maracatu rural, os vaqueiros encourados, as rendeiras do agreste e até as cores de sua bandeira — invadiram passarelas, praias, vitrines de butiques sofisticadas e terminaram por ganhar as ruas e salões. E começam a chamar a atenção de especialistas estrangeiros, como Patrick Girrault, do Bureau Totem, um dos responsáveis pela seleção de novos talentos para a Semana do Prêt-à-pôrter, que acontece todos os anos no Museu Louvre, em Paris.

Patrick esteve no Recife e deslumbrou-se com as cores dos maracatu, com as rendeiras e bordadeiras das cidades de Pesqueira e Passira, e com as fontes de inspiração de Eduardo Ferreira.

— Ele me disse que não é difícil o movimento mangue virar tendência no mundo inteiro porque as raízes em que se baseia são muito fortes — conta Eduardo Ferreira, único pernambucano e um dos quinze brasileiros a figurar no catálogo dos novos da revista cult “Visionaire”.

A grife Eduardo Ferreira tem como símbolo nada mais nada menos que a caveira do boi, aquela que os nordestinos se habituaram a ver nas estradas poeirentas do sertão durante a seca. E que, claro, tem lá sua poética. Que o diga a pernambucana Xuruca Pacheco, há 15 anos produzindo moda no Recife, usando tons de terra do sertão, fibras, seus couros (principalmente o de bode), seus adereços e até suas sementes, como a santa-maria, o mulungu, o olho-de-boi.

Xuruca criou-se entre as muralhas do teatro ao ar livre de Nova Jerusalém, que foi fundado pelos seus pais, Diva e Plínio Pacheco. De lá trouxe a convivência com boiadeiros, vaquejadas, gibões, chapéus de couro e as lendas de Lampião.

Mas nem só do agreste vive a moda pernambucana. Vem, também, dos canaviais. Melhor dizendo, dos caboclos de lança dos maracatus rurais, que enchem de colorido os engenhos da zona da mata. Eduardo Ferreira inspira-se nas fitas da indumentária desses lanceiros para criar roupas riquíssimas. Blusas de renda renascença, tecidas pelas artesãs da cidade de Pesqueira, são rebordadas em paetês com trama em cetim colorido.

Foi baseada nos caboclos de lança do maracatu rural que Xuruca compôs uma roupa despretensiosa e divertida, em ráfia colorida.

O folclore, as cores e as fibras do sertão já não estão sozinhos no mundo fashion de Pernambuco. A bandeira do estado de repente ficou in . Suas cores, o branco, o azul, o amarelo, o vermelho e o verde, estão em toda parte: em biquínis, tops, vestidos, chapéus e até sapatos. O artesão Jailson Marcos, com trabalhos em editoriais de moda na “Elle ” e na “Vogue” brasileiras, fez escarpins azulões inspirados na bandeira. Já a Fag — uma grife de bolsas muito solicitada pela geração mangue — tem uma linha que explora à exaustão as cores e formas da bandeira.

— O movimento manguebeat lançou um novo olhar sobre as coisas da cidade, e estilistas e artistas usam agora a bandeira em quase tudo, bolsas, móveis, até mosaicos — diz Osman Frazão, o criador das coleções da Fag.

A artesã Rose Presbítero — mãe de Safira, a menina que é a embaixatriz do frevo pernambucano — cria chapéus baseados no modelo de Mateus do Bumba-Meu Boi, que são hoje uma febre entre os jovens. Chapéus que são vendidos também na Itália, em Portugal, na Espanha e na Noruega.

O Governo de Pernambuco, que não é besta, aproveitou a onda e lançou em janeiro um CD com o hino do estado em todos os ritmos: frevo, mangue, forró. O CD terminou sendo o mais tocado no carnaval, os discos passaram a ser disputados a tapa devido à tiragem limitada, e a procura por modelitos made in PE aumentou mais ainda.

Crédito:Anna Beth

Autor:Letícia Lins

Fonte:O Globo