Rio de Janeiro, 21 de Maio de 2024

Passos de Anchieta em 4 dias

Os Passos de Anchieta em 4 dias

Quem não tinha preparo físico para percorrer os 100 quilômetros entre Vitória e Anchieta, no Espírito Santo, trajeto da caminhada intitulada Os Passos de Anchieta, durante três dias, agora não tem mais desculpas para não participar da peregrinação turístico-religiosa. É que a partir deste ano a caminhada oficial será percorrida em quatro dias. A decisão foi tomada pela Abapa - Associação Brasileira dos Amigos dos Passos de Anchieta - atendendo a pedidos dos próprios andarilhos, para que possam aproveitar melhor o percurso. Os que pretendem participar da caminhada coletiva de 2002 devem estar atentos pois, com a extensão de sua duração, os pontos de parada para pernoite também serão mudados. A primeira parada será feita na Barra do Jucu, a segunda em Setiba e a terceira em Meaípe.

Outra novidade divulgada pela Abapa é o calendário das caminhadas de aquecimento, que tiveram início em janeiro e a data da caminhada oficial de 2002 que acontecerá nos dias 30 e 31 de maio e 1.º e 2 de junho.

Inscrições para interessados

Os interessados em participar da peregrinação ou que quiserem mais informações podem entrar em contato com a Abapa - Associação Brasileira dos Amigos dos Passos de Anchieta. O endereço é Rua Padre Antônio Ribeiro Pinto, 195/1004, Edifício Guizzardi Center, Praia do Suá, Vitória, Espírito Santo. Telefones: (27) 3315 5473 ou (27) 3227 2661.

Esse é o quarto roteiro religioso

Passos de Anchieta, projeto que refaz a trilha do Padre José de Anchieta, teve início em 1998. A idéia original do evento é a de tornar a rota em um caminho perene - a exemplo do de Santiago de Compostela, na Espanha. Mas, para alavancar a idéia e tornar o caminho conhecido e organizado, foi fundada pela ONG Associação Brasileira dos Passos de Anchieta que organiza caminhadas coletivas anuais, e também caminhadas periódicas, quando são percorridas partes do roteiro.

Após quilômetros no segundo trecho da caminhada chega-se à praia de Setiba, em Guarapari.A caminhada, que refaz a trilha no litoral capixaba percorrida pelo beato durante os últimos anos de sua vida, é o quarto roteiro desse tipo existente no mundo - os outros três são os famosos caminhos de Santiago de Compostela, na Espanha; a trilha da Terra Santa, em Jerusalém; e a de Roma, na Itália. "Considero os Passos de Anchieta seguramente um dos marcos do turismo religioso e de lazer dos mais importantes do País", declara a secretária Extraordinária de Turismo do Espírito Santo, Luzia Toledo.

Com apenas três anos de existência, o roteiro já atraiu cerca de seis mil pessoas, sendo que, no ano passado, na caminhada coletiva anual, já se podia observar na multidão andarilhos de três diferentes países. A caminhada coletiva oficial ocorre sempre no primeiro final de semana de junho e percorre os 100 quilômetros entre Vitória, capital do Espírito Santo, e a pequena vila de Anchieta, no litoral sul capixaba, em quatro dias. No ano passado cerca de três mil pessoas, vindas de todo o Brasil e também dos Estados Unidos, Canadá, Peru e Portugal vieram percorrer a rota.

Aproveitando o feriado de setembro, foi instituída a Caminhada da Independência. A diferença dessa vez é que o caminho é feito em sentido contrário ao roteiro original.

Roteiro da fé

A caminhada Os Passos de Anchieta será feita em quatro dias, divididos nos seguintes trechos: o primeiro, entre Vitória e Barra do Jucu, em Vila Velha, são percorridos em média 25 quilômetros. O segundo trecho compreende Barra do Jucu até Setiba, em Guarapari, perfazendo 28 quilômetros. No terceiro dia são percorridos 24 quilômetros entre Setiba e Meaípe, ainda em Guarapari. E finalmente os 23 quilômetros finais cobrem Meaípe até Anchieta, na Igreja Matriz do município.

Como Vitória é uma ilha, para chegar a Vila Velha existem duas possibilidades: atravessar a baía em uma embarcação, como originalmente fazia Anchieta, ou passar pela Terceira Ponte. Vale lembrar que a subida ao Convento é parte obrigatória do percurso. Seguindo sempre pelo litoral, a rota continua pelas praias urbanas de Vila Velha: Praia da Costa, Itapoã e Itaparica, com suas dezenas de quiosques contrastando com os modernos edifícios da orla, chegando a Barra do Jucu, designada paraíso do surfe e das bandas de congo. Aqui, vale à pena uma pausa para degustar uma moqueca e ouvir as cantigas entoadas pelos tocadores de congo, ao som ritmado dos tambores e das casacas.

Enquanto o primeiro dia se passa quase todo em área urbana, no segundo trecho as praias são praticamente desertas. Saindo da Barra do Jucu, os andarilhos passam pela praia de Ponta da Fruta, que possui uma grande lagoa de água doce, para logo depois entrar na área de restinga protegida pelo Parque Estadual Paulo César Vinha. As praias que se sucedem são um convite à reflexão interior e contemplação da natureza.

A segunda parada para pernoite é em Setiba. A região é conhecida como point para praticantes de surfe e canoagem em onda. Em intervalos constantes a Abapa monta pontos de apoio aos andarilhos para fornecer água, frutas e medicação para possíveis cãibras, bolhas e torções. Na ocorrência de algum caso mais grave, há ambulâncias a postos para remoção de acidentados. Aqueles que acabam desistindo no meio do caminho podem pegar uma carona nos carros de apoio da organização.

Todo o percurso é marcado por aspectos ecológicos, históricos, religiosos e culturais. Talvez seja essa a receita que consegue atrair tanta gente dos mais diversos lugares do país. O andarilho certamente se sentirá recompensado no terceiro dia, ao passar pela região conhecida por Aldeia e pelas Três Praias, em Guarapari, onde a natureza mostra suas enseadas caprichosamente desenhadas e emolduradas com pedras e ondas mansas e preguiçosas.

Guarapari, uma das cidades fundadas pelo Beato, é conhecida nacionalmente devido às suas praias de areias monazíticas, benéficas à saúde. Meaípe é o terceiro ponto de parada do roteiro. A última etapa, de 23 quilômetros, é um resumo de todos os anteriores, pois alterna trechos onde se caminha em praias desertas, rodovias e estradinhas de terra. Em um dessas estradinhas os andarilhos são saudados com pétalas de flores e palmas.

Na beira das praias são encontrados poços naturais de água potável que, dizem, teriam sido abertos pelo Padre Anchieta, matando a sua sede e a dos índios que às vezes o acompanhavam.

Ubu, uma pequena vila à beira de uma extensa praia de águas mansas, recebeu este nome quando Anchieta ali passou pela última vez. Carregado por uma multidão de cerca de três mil índios, seu esquife tombou, o que fez os índios exclamarem "Aba Ubu" - O padre caiu.

Hoje, no local onde se diz ter ocorrido o acidente, existe uma cruz onde os andarilhos, ao passarem, viram-se de costas e atiram conchas, cada uma simbolizando um pedido que gostariam que fosse atendido pelo padre. Uma alusão às pedras que são atiradas por cima do ombro, no caminho de Santiago.

O último oásis do caminho fica na praia de Castelhanos, onde muitos esperam pelos que ficaram para trás, para poderem percorrer os últimos quilômetros e subirem as escadarias do santuário juntos.

O grande prêmio da caminhada é a visão da escadaria que leva ao santuário de Anchieta, uma construção jesuítica de 1597, erguida pelo beato em seu último ano de vida com a ajuda dos índios tupis. A essa altura, os participantes agora compartilham não só a refeição de boas vindas, mas também de uma história de solidariedade, superação de obstáculos físicos e interiores, amizade e satisfação.

Crédito:Anna Beth

Autor:redação

Fonte:Paraná On Line