Rio de Janeiro, 22 de Maio de 2024

Paraíso dentro da cidade

A uma hora da Zona Sul, 12.500 hectares de floresta quase intacta escondem as belezas do que restou da Mata Atlântica no município do Rio. São 220 espécies de aves, 39 de mamíferos e raridades da flora como jequitibás e jacarandás centenários, um verdadeiro refúgio ecológico em meio ao caos urbano.

O nome do paraíso natural, que se estende de Bangu ao Recreio dos Bandeirantes, é Parque Estadual da Pedra Branca, a maior floresta urbana do mundo. Criado em 1974, o parque ficou relegado a aventureiros e moradores locais devido à falta de infra-estrutura para receber visitantes. Desde o fim de agosto, no entanto, 12 guias recém-formados estão de prontidão para conduzir quem busca vistas deslumbrantes ou só um pouco de ar puro. A iniciativa do Instituto Estadual de Florestas (IEF) em parceria com as ONGs Grude e WWF é um esforço louvável para estimular o ecoturismo, ainda pouco explorado no Rio.

Com 48 trilhas, o parque oferece caminhadas para todos os níveis de condicionamento. Uma das que exige maior preparo físico é a que percorre o Morro do Quilombo. Para chegar ao topo e avistar a Praia do Recreio, é necessário subir 15m com a ajuda de cordas. Nada que iniba os ecoturistas. Quem já enfrentou a famosa carrasqueira - paredão de quase 80° de inclinação no fim da subida da Pedra da Gávea - tira de letra.

Já o caminho que leva ao Açude do Camorim, uma represa com um quarto do tamanho da Lagoa Rodrigo de Freitas, não apresenta grandes obstáculos. Gasta-se menos de duas horas para chegar, mas é preciso forçar a panturrilha. Por enquanto, a trilha para o açude e a que conduz ao topo do Pico da Pedra Branca - o ponto culminante do município, 1.024m acima do mar - são as únicas já à disposição dos cariocas. ""Estamos revitalizando a área aos poucos. Em breve, o acesso às outras trilhas será aberto"", diz André Ilha, presidente do IEF, que administra o parque.

Quem entra na floresta esquece que a praia está a alguns quilômetros dali. Num dia de calor escaldante, a mata fechada impede a exposição ao sol e mantém a temperatura na faixa dos 25°C. No inverno, o frio faz bater os dentes, com temperaturas beirando os 10°C nos pontos mais altos. Por isso, a melhor época para conhecer as belezas do parque é mesmo o verão.

Além da temperatura ideal, os rios estão cheios por causa das chuvas, aumentando o volume das quedas d"água. A má notícia é que o banho é proibido na maioria das cachoeiras, pois a rede hidrográfica do parque abastece a população dos bairros vizinhos. Mas pelo menos dá para matar o calor jogando água fresca na nuca. Beber na nascente também é liberado. O som dos pássaros e das folhas das árvores é tudo o que se ouve na floresta. Ao mais leve movimento, as atentas maritacas que sobrevoam a mata o tempo todo começam a cantar. De vez em quando, um barulho ecoa da copa das árvores assuntando quem está embaixo. São apenas pombos do mato, indiferentes à presença humana.

Dependendo do caminho que se faz, é preciso pedir permissão para atravessar sítios. No parque ainda se encontram propriedades particulares, um resquício do século 19, quando fazendas de café ocupavam toda a região do Maciço da Pedra Branca. Proprietários mais hospitaleiros costumam chamar quem passa para um café, num clima bem de interior. Se por azar as casas estiverem vazias, dá para forrar o estômago por ali. Pés de jaca e bananeiras espalham-se como pragas. Nas trilhas de Vargem Grande as amoras também ajudam a matar a fome. Há ainda opções de comida próximas aos limites do parque.

Quem sobe pelo Pau da Fome, em Jacarepaguá, pode saborear pastel com caldo de cana na barraca de Seu João, logo na entrada do parque. Para os que preferem subir por Vargem Grande, a padaria Pão da Mata, que também organiza caminhadas no último domingo do mês, tem boas opções de sanduíches naturais.

A companhia dos guias não é obrigatória, mas aconselhável. Semana passada, um grupo de adolescentes que resolveu encarar as trilhas sozinho se perdeu e só foi encontrado no dia seguinte. Vez por outra também é possível esbarrar com caçadores, um dos principais entraves à fiscalização do parque. Nessas horas é melhor estar acompanhado por alguém acostumado a lidar com os ""invasores"". Além disso, os 12 guias têm na ponta da língua o nome de cada espécie de pássaro e sabem de cor a história do lugar. E o melhor: é tudo de graça.

 

Vargem Grande

Quem vai pela Estrada do Camorim vê a cachoeira Véu de Noiva, queda d´água de 5m logo no início da trilha

Crédito:Anna Beth

Autor:Danielle Nogueira

Fonte:Domingo - JB