Rio de Janeiro, 19 de Abril de 2024

Mamãe, eu quero mamar

Mamãe, eu quero mamar

A alimentação do recém-nascido é uma das principais preocupações das mães, especialmente as estreantes.

Logo de cara elas se deparam com uma questão: o ideal é amamentar sempre que o bebê quiser ou determinar os horários das mamadas?

Pediatras e outros profissionais que trabalham com gestantes se dividem em duas correntes. Uns pregam a chamada livre demanda. Outros, a indução de horários.

Pediu, mamou


Os defensores da livre demanda são mais numerosos. O principal argumento de defesa desse método é que ele representa uma comodidade maior para a criança: ela se alimenta quando realmente tem vontade e não precisa amargar um período de fome apenas porque ainda não chegou a hora estipulada. "Assim o bebê se sente mais seguro, chora menos e mama mais", afirma Clarice Skalkowicz Jreisati, psicóloga especializada em família.

Um bebê mais calmo na hora de mamar, sem aquela voracidade dos famintos, irá sugar mais tranqüilamente o seio. Com isso poderá ter menos cólicas, pois irá ingerir pouco ar, o principal responsável pelo acúmulo de gases que causa tanto desconforto. Ir mais vezes ao peito da mãe também é a melhor maneira de ajudá-la a ter mais leite. O sistema de produção é acionado quando o bebê suga o seio, e, quanto maior a procura, maior a oferta.

Antes de embarcar nessa, porém, é bom saber que as primeiras semanas podem realmente ser cansativas. O bebê costuma mamar seguidas vezes, pois a quantidade de leite ainda é insuficiente. O leite materno começa a ser mais abundante somente a partir do quinto dia após o parto, e os intervalos entre as mamadas tendem a espaçar-se. Um mês depois, a criança estabelece uma rotina, determinada pelo tempo que leva para digerir o leite materno – em torno de duas horas a duas horas e meia.

Esse ajuste se dá também porque aos poucos a mãe consegue identificar o que quer dizer cada tipo de choro do bebê (fome, frio, dor de barriga, fralda molhada, falta de companhia). Eis mais uma razão para adotar a metodologia do "chorou, mamou", segundo seus defensores. "Ao lidar com o filho sem restrições, a mãe aprende a reconhecer mais facilmente suas necessidades", entende Clarice.

Você só precisa tomar cuidado para que o bebê não comece a usar o seio como chupeta. "Quando ele extrai o leite, movimenta toda a musculatura da face, comprime a aréola com a língua e suga com vontade", explica Ana Abrão, professora da Escola Paulista de Medicina/Unifesp. "Se está apenas "chupetando", fará movimentos de pouca compressão, sem engolir, e a mãe deve encerrar a mamada."

"Deixei que meus filhos estabelecessem a rotina de mamadas. A gente fica meio em função do bebê, mas acho que é melhor para ele. Com isso consegui me adequar à personalidade de cada um. O Caio, mais glutão, mamava de três em três horas. A Juliana às vezes dorme cinco horas seguidas, sem manifestar fome."

Luciana Ramos, mãe de Caio, 4 anos, e de Juliana, 14 dias.

O relógio comanda
O método com horários preestabelecidos estipula mamadas com intervalos de três horas, em média. Trata-se do tempo necessário para a criança digerir as fórmulas com leite de vaca, mas vale também para as que mamam no peito. "Aconselho um espaçamento de no mínimo duas horas e no máximo quatro", afirma o pediatra Wladimir de Deos. "Assim há condições para o reabastecimento do estoque de leite materno e para a digestão do bebê."

Uma alimentação mais equilibrada tem suas bases no esquema de indução de horários das mamadas, segundo os adeptos da corrente. Mamando seguidamente e sem regras, argumentam, o bebê estará exposto a riscos. Caso seja do tipo comilão, pode acabar superalimentado e engordar além do esperado. Num quadro oposto, pode acostumar-se a fazer pequenos lanches ao longo do dia em vez de refeições completas. "Esse hábito pode levá-lo a consumir leite em quantidade abaixo de suas necessidades", afirma a enfermeira obstétrica Martha Goldberg, que coordena o grupo de consultoria em aleitamento materno Leite Meu. É que a criança, segundo uma teoria, consome grande teor de água nos primeiros cinco minutos de mamada. Somente depois disso o leite começa a encorpar e a adquirir níveis mais elevados de gordura e proteína, tornando-se mais nutritivo.

Regrar os horários de mamada é uma maneira de impor a seu filho uma rotina que, aos poucos, pode integrar-se ao ritmo da família. Os ciclos de fome e sono dos recém-nascidos estão intimamente ligados. Ao organizar as horas de mamada, você estará orientando os hábitos de sono de seu bebê. Quem aposta nessa linha afirma que, após a oitava semana de vida, o bebê passa a dormir como um anjinho a noite inteira. E, quando for a hora de introduzir as comidas sólidas, será mais fácil acomodá-lo às subdivisões normais de alimentação da família.

A indução de horários é indicada especialmente nos casos de bebês frágeis, delicados e dorminhocos. "Tem recém-nascido que simplesmente dorme cinco ou seis horas seguidas", diz Martha. "Se não for induzido a mamar, pode apresentar um quadro de hipoglicemia por causa da queda da taxa de glicose no sangue em decorrência de carência alimentar", descreve.

Você escolhe


A publicitária Luciana Ramos, mãe de Caio, 4 anos, e de Juliana, 14 dias, deixou que seus filhos estabelecessem a rotina de mamadas. "A gente fica meio em função do bebê, mas para ele é a melhor coisa." Caio era mais glutão. Um reloginho, mamava de três em três horas. Preguiçosa, Juliana às vezes dorme até cinco horas sem dar sinais de fome. "Quando está cansada, só mama num dos peitos, e sei que acordará logo para mamar novamente", conta a publicitária. Apesar de seguir a livre demanda, Luciana se orienta por uma regra básica: não dá o peito de hora em hora nem deixa a pequena ficar mais de cinco horas sem mamar.

Horário regrado foi a opção da advogada Mary Gurevich, mãe de Laura, 2 anos, e de Gustavo, 1 mês. "Quando chega a hora programada, ele já tem certa fome, mama superbem e depois dorme tanqüilamente", conta Mary, que aí pode dedicar-se a Laura. "Sem esse esquema, não conseguiria sair de casa sem levar o Gustavo", justifica.

Observados todos os cuidados, tanto a livre demanda quanto a indução de horários oferecem vantagens. A escolha depende do seu estilo de vida ou das necessidades do seu filho. Uma conversa com o pediatra poderá ajudá-la a tomar a melhor decisão.

Olho na balança

Bebê que mama bem engorda bem. Confira abaixo quanto, em média, a criança ganha de peso até 1 ano de idade.

Até 2 semanas de vida
Recupera o peso que tinha ao nascer (geralmente os bebês perdem em torno de 200 gramas nos primeiros dias).

Da 2ª semana aos 3 meses
30 gramas por dia

Dos 4 aos 6 meses
15 gramas por dia

Com 1 ano
Terá aproximadamente de duas e meia a três vezes o peso que tinha ao nascer.

Fonte: Nana Nenê, Gary Ezzo e Robert Buckman, Nexo Editorial.

Crédito:Luiz Affonso

Autor:Anna Oliveira Rodrigues

Fonte:Universo da Mulher