Rio de Janeiro, 17 de Maio de 2024

Atenção, mulheres!

No bar, no restaurante, na boate ou até mesmo na praia, antes de retribuir a piscadela daquele boa-pinta ao lado, pense pelo menos duas vezes. A piscadela pode lhe custar caro! E ninguém está falando de desilusão amorosa ou qualquer bobagem do gênero (mulher contemporânea ainda sofre por homem?). O buraco em questão fica lá embaixo — no bolso. Isso porque, ao contrário do que se pode supor, os garotos de programa de luxo estão por toda a parte — e, como os donos de helicópteros, cobram horrores por algumas horinhas nas nuvens.

A diferença agora é que os garotos de programa não são encontrados apenas nos classificados de... massagens. Eles estão nas academias de ginástica caras, nas boates, restaurantes e happy hours da moda.

Não adianta tentar reconhecê-los. Qualquer arquétipo não se encaixa perfeitamente no perfil do michê atual, que pode bem ser o seu vizinho bonitão ou aquele colega da aula de spinning que não pára de cortejá-la. Depois do approach inicial as coisas começam a clarear; e a incauta, a ficar mais pobre.

A professora universitária Meire (nome fictício como o de todos os outros entrevistados desta reportagem), de 48 anos, 20 de magistério, só agora se considera escolada. Ela precisou cair na cantada do gatão sedutor (que lhe pediu singelos R$ 300 por uma noite) para se dar conta da existência desse universo paralelo. Mas jura que não se arrependeu do que gastou.

— Foi ótimo! Incrível, mesmo. Mas isso é compreensível, não? O cara trabalha com sexo. Tem mais é que fazer muito bem. Sou divorciada há três anos e já tinha pagado para transar outras vezes, até antes de me separar. O que me surpreendeu, desta vez, foi que eu não precisei procurar. Eu jantava num restaurante, no Leblon, quando o Vander me abordou. Ele estava bebendo no bar. Ficamos nos olhando por muito tempo. Eu tinha feito um novo penteado, comprado umas roupas mais jovens. Estava me sentindo bonita e jurava que isso o tinha atraído. Ele é lindo demais, forte, tem olhos azuis — conta Meire. — Saímos de lá e fomos para a casa dele. Vander foi um gentleman. Só depois de fazermos amor é que ele abriu o jogo. Achei que não foi muito limpo, mas, como o sexo tinha sido maravilhoso, pensei: vale. Paguei e, de vez em quando, ainda saio com ele. Não vejo o menor problema nisso.

Ok, Meire tem uma visão, por assim dizer, bem cool do assunto. Mas saiba: ela não é uma voz solitária. Outras mulheres que pagam para ter prazer com garotos de programa, e que os encontram nos lugares mais insuspeitos, também encaram o comércio de um modo supernatural.

— Nunca tive problemas com meu marido na cama. A gente se entende muito bem. Mas eu tenho um instinto natural de dominação, e ele não é muito aberto a isso — explica a psiquiatra Antonia, de 35 anos. — Meus fetiches não passam por correntes, chicotes, velas e coisas assim. Quero apenas controlar o homem na cama, mandar nele. Às vezes até bato. E ninguém é mais perfeito que um garoto de programa para satisfazer minhas vontades. Envolvimento? Nem pensar! Não misturo as coisas. Amo meu marido e sequer se passa pela minha cabeça a separação. Não me sinto traindo porque com o garoto de programa só atendo a um impulso sexual.

Antonia conheceu há dois meses, numa happy hour no Arco do Telles, o dançarino amador Cléber, de 24 anos, um verdadeiro clichê ambulante: saiu de Campo Mourão, no interior do Paraná, para tentar a sorte no Rio. Como as portas não se abriram magicamente para ele, caiu na prostituição.

Cléber é tratado a mimos e carinhos por suas atenciosas clientes, quase sempre muito mais bem-resolvidas do que os homens que o procuram.

— As mulheres geralmente atacam mais, são mais agressivas na cama. Elas querem mandar e não podem fazer isso em casa, com os maridos. Já os meus clientes homens, na sua maioria, são passivos. São caras casados querendo satisfazer fantasias. Tenho mais clientes homens que mulheres, na verdade, mas elas são as mais generosas. Dão presentes o tempo todo, pagam jantares e até viagens — explica Cléber.

Seu colega de carreira Vander, de 21 anos (aquele que jogou a conversinha mole para pescar a professora Meire), acredita que a abordagem em lugares bem-freqüentados e discretos é extremamente mais eficiente. Ele já fez ponto na famosa Via Ápia, a Avenida Antonio Carlos, no Centro do Rio, onde garotos de programa e assaltantes se misturam e agem livremente à noite.

— Já não preciso ir até lá. Vou a certas boates onde há clientes em excesso. A Via Ápia é muito perigosa, as mulheres não estão mais indo lá. Além disso, nos lugares mais chiques eu posso cobrar bem mais — diz.

E alguma vez a abordagem terminou mal?

— É claro que sim, várias vezes. Elas ficam ofendidíssimas, ameaçam chamar os seguranças. Eu saio de fininho. Mas com o tempo a gente vai aprendendo a selecionar melhor a cliente. Não posso propor a qualquer mulher que me pague R$ 200 por uma hora de sexo. Tenho que enxergar o desejo nela e seduzi-la.

Vander garante ter entre suas clientes figuras ilustres, a nata das beautiful people cariocas. E inimagináveis chefes de família também:

— Foi um estalo. Percebi que nos restaurantes mais badalados da Zona Sul eu me daria melhor. Hoje tenho uma vida maravilhosa. Moro no apartamento de uma cliente que está sempre viajando. Para ela, nós temos um relacionamento. Ela sabe que continuo trabalhando, mas aceita por acreditar que estamos juntos. Só que eu não considero assim. Com essa vida, o meu coração foi secando.

O de Mirtes, uma empresária viúva, de 57 anos, ainda é uma fonte inesgotável. Há alguns meses ela conheceu Cléber na academia onde faz aulas de ginástica, em Ipanema. No começo nem queria sexo com ele. Pagava para bater papo, falar da vida.

— Ele é um menino lindo, especial e me ajudou a redescobrir o sexo. Faço questão de pagar, porque sei que ele vive disso. É claro que não alimento ilusões. Não sou nenhuma garotinha boba. Ele vai embora, quando tiver que ir. Mas, enquanto isso, eu aproveito. Com ou sem dinheiro envolvido, sexo é simplesmente algo natural. Não perco tempo me remoendo em culpa por fazer o que eu faço. Quero mais é viver — diz a empresária viúva.

Crédito:Fatima Nazareth

Autor:Alessandro Soler

Fonte:O Globo