Rio de Janeiro, 09 de Maio de 2024

Liberdade e qualidade de vida sobre rodas

Muitas pessoas olham para uma cadeira de rodas e imaginam uma prisão, como se ela impusesse limites à vida sem a menor perspectiva de liberdade. Essa percepção, porém, é totalmente equivocada para aqueles que tiveram a mobilidade reduzida em virtude de alguma deficiência física - seja congênita ou adquirida. Para essas pessoas, o acessório tem o propósito contrário, sendo considerado um instrumento de libertação e inclusão social, como sinônimo de autonomia e independência. "Embora no começo seja difícil aceitar, a cadeira de rodas é muito importante para a locomoção do cadeirante. Com ela, com certeza somos mais independentes", diz a atriz Tabata Contri (foto), de 27 anos, que ficou paraplégica aos 20 após sofrer uma lesão medular em um acidente de carro. 

Tabata, que também trabalha em uma consultoria para inclusão de pessoas deficientes, diz que a cadeira de rodas carrega um estigma que não é dela, pois existe para melhorar a vida do cadeirante, possibilitando um convívio social como de qualquer outra pessoa. "Com minha cadeira vou aonde quiser e quando eu quiser. Não dependo de ninguém. Trabalho, estudo, saio com meus amigos, vou ao teatro. A cadeira me liberta. Se não fosse ela ficaria o dia inteiro deitada na cama ou sentada no um sofá ", justifica.

Se no passado elas tinham um aspecto desengonçado e nada estético, hoje as cadeiras de roda já possuem design e tecnologia modernos, que garantem maior autonomia de movimentos e bem-estar, contribuindo inclusive para elevar a auto-estima do deficiente. Adquirem estilo e personalidade próprios de seu dono e são até mesmo consideradas fashion. "Em minhas fotos a cadeira de rodas virou objeto de moda", conta a fotógrafa e publicitária Kica de Castro, especializada em fotografar modelos deficientes físicos. Para Tabata, a cadeira tem a ver com a pessoa e também é incorporada ao visual. "Eu tenho uma vermelha, uma preta e uma amarela. Mas nem sempre dá para combinar a roupa com a cadeira", brinca

"A cadeira é um equipamento assistivo ideal, considerando a condição física de cada usuário de forma individualizada. O paciente adquire postura adequada, o que possibilita a recuperação do tônus muscular, melhor respiração e, conseqüentemente, o bom funcionamento dos órgãos internos", aponta Lea Rizo, terapeuta ocupacional da AACD.

Qualidade de vida

Dessa forma, a cadeira de rodas acaba deixando de ser um simples acessório para tornar-se uma companheira inseparável no dia-a-dia, fazendo valer o direito de ir e vir do deficiente. Consequentemente ela exerce influência direta na qualidade de vida do cadeirante. Aspectos como conforto e bem-estar tornam-se fundamentais para a saúde do deficiente, visto que ele passa o dia inteiro sentado. Porém são aspectos que não estão apenas relacionados a uma boa cadeira de rodas, mas também a uma postura adequada na mesa. "Uma má postura pode trazer sérios problemas, como desvios posturais ou danos aos tecidos. Por isso é preciso que haja uma adequação postural para correta distribuição de peso sobre a cadeira", explica o fisioterapeuta e professor da Universidade Federal de São Paulo - Unifesp Carlos Alberto Barbosa Vasconcellos.

O professor salienta que, quando sentados, transferimos de 70 a 80% do peso do corpo para os quadris. Isso faz com que qualquer desvio na postura seja danoso para a coluna. Manter uma posição assimétrica por muito tempo deforma e muitas vezes a pessoa nem percebe que sua postura está errada. No caso dos cadeirantes, que não têm sensibilidade nos membros inferiores - paraplégicos ou em todo corpo - tetraplégicos, a postura errada também pode acarretar danos decorrentes da compressão e conseqüente falta de oxigenação e nutrição dos tecidos - conhecidos como escaras ou úlcera de decúbitos. "Isso porque o tecido se adapta depois de uma hora em uma determinada posição e a falta de sensibilidade faz com que o cadeirante não perceba essa compressão", justifica Barbosa, dizendo que hoje a adequação postural não implica simplesmente em uma melhor postura na cadeira, mas sim em uma maior qualidade de vida para o cadeirante

Adequação Postural

Pensando na importância da adequação postural, a Cavenaghi - empresa referenciada em soluções para a mobilidade da pessoa com deficiência, em parceria com a AACD - Associação de Assistência à Criança Deficiente, promoveu de 28 a 30 de agosto no Bourbon Convention Center Ibirapuera, em São Paulo, o II Simpósio Brasileiro de Adequação Postural em Cadeira de Rodas. Dentre os principais palestrantes estão especialistas em tecnologia assistiva, engenheiros, terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas da Universidade de Pittsburg, nos EUA. Nomes como o terapeuta ocupacional e especialista em tecnologia assistiva Mark Schmeler, o fisioterapeuta sueco Bengt Engström - autor do livro "Ergonomics Seating: A True Challenge" e a fisioterapeuta norte-americana Kendra Bertz, que trabalha para o governo dos EUA como responsável pela coordenação do programa de reabilitação dos soldados feridos que retornam na guerra do Iraque.

O objetivo do evento foi reunir profissionais da área de reabilitação - como médicos fisiatras, ortopedistas, terapeutas, enfermeiros, bio-engenheiros e representantes de empresas do segmento que debateram o papel da adequação postural na qualidade de vida dos cadeirantes. O Simpósio apresentou temas como biomecânica na adequação postural, tipos de cadeiras de rodas, almofadas e encostos, mapeamento de pressão, úlceras de pressão (escaras), além da indicação de equipamentos, avaliação few-few (ao substituir uma cadeira de rodas, o próprio cadeirante faz uma avaliação entre a cadeira antiga e a nova), apresentação de estudo de casos infantil e adulto, e projeto de cadeira de rodas para países em desenvolvimento.

Crédito:Cris Padilha

Autor:Liliam Brito

Fonte:Universo da Mulher