Maria Irene Maluf, pedagoga, especialista em Educação Especial e Psicopedagogia, Editora da revista Psicopedagogia, Docente em cursos de Pós Graduação e Aperfeiçoamento em Psicopedagogia. Contato: irenemaluf@uol.com.br
Existem alguns assuntos que deixam os pais preocupados e hesitantes não apenas sobre a escolha da melhor ocasião para falar sobre eles aos filhos, mas ainda o que é mais conveniente falar. Falar sobre Deus é um desses assuntos.
Emolduradas sob uma aura de misticismo que em geral cercam as questões ligadas à religiosidade, as idéias tornam-se complexas e difíceis de serem transmitidas para as crianças e por isso são muitas vezes esses ensinamentos são adiados ou até “terceirizados” à escola.
A introdução desse tema, tão importante na vida da maioria das famílias, pode ser simples, se tratado com naturalidade no dia a dia ou muito difícil, se há contradições entre o comportamento dos pais e o que estes pregam, ou até em situações especiais onde a religiosidade é uma questão desgastada, fragilizada e ao mesmo tempo conturbada entre os adultos da casa.
Não se exige dos pais uma formação específica para falar sobre Deus: o importante é dividir com as crianças a sua experiência, o seu testemunho de fé e crença, usando sua linguagem corriqueira, sem rebuscar nas explicações ou transformar esse momento de intimidade familiar em uma aula, pois isso deixa os filhos pequenos sem entender e os maiores, desconfiados....
Ninguém sabe tudo sobre religião, mas cada um de nós sabe, no mínimo, o mais importante para si próprio e para sua vida e está diariamente aprendendo e não apenas nos dias de culto. Por isso, não saber todas as respostas é natural e até ajuda quando nos dedicamos a criar nossos filhos dentro de uma perspectiva de formação de valores, de aceitação do outro e da busca da verdade e da justiça.
Há famílias formadas por pais, avós e filhos que professam crenças diferentes e é lógico que nesse caso é mais possível encontrarmos crianças mais sensíveis ao tema, fazendo perguntas mais amiúde, buscando esclarecimentos, os quais devem ser dados da forma mais homogênea possível, para não perturbar a mente ainda incapaz de compreender as diferentes nuances desse assunto tão complexo que é a fé.
Educação e religião têm muito em comum, pois ambas fundam-se em valores éticos e morais, no amor ao próximo e ao Criador. Independentemente do nome que Ele receba, a crença em um Ser Superior, impregna a compreensão de mundo e a ação das pessoas de todas as idades e orientam por meio dos valores que ensinam, o uso do conhecimento, estimulam o desejo de crescimento moral e através do respeito traçam os limites de cada um e a aceitação das diferenças.
Complicada também é a situação de algumas crianças, que apesar de criadas em lares onde não há uma linha religiosa propriamente dita ou até onde vivem com pais ateus, elas freqüentam escolas religiosas ou escolas laicas onde há o preparo para algumas cerimônias desta ou daquela religião, como por exemplo a Primeira Comunhão dos católicos. Vivenciei um caso assim, onde a criança de apenas dez anos, sem saber o que fazer, mentiu a todos os colegas e professores alegando ter feito sua comunhão em anos anteriores em outro colégio. A angústia permeou todo aquele seu ano letivo, pelo medo de ser desmentida publicamente e passar a ser rejeitada pelos colegas. Conseqüência: seu rendimento escolar decaiu e passou a ter um comportamento arredio tanto na escola como em casa.
E para terminar, vamos mais uma vez lembrar que falar sobre Deus às crianças é uma tarefa própria da educação familiar que pode ou não ser continuada na escola, a qual também por essa razão, deve ser cuidadosamente selecionada pelos pais.
Crédito:Cris Padilha
Autor:Denise Monteiro
Fonte:Universo da Mulher