Rio de Janeiro, 18 de Abril de 2024

Ortorexia: quando o inimigo é a preocupação com a saúde

 
A preocupação com a saúde e alimentação adequada já faz parte do cotidiano de muitos brasileiros.
 
 
Em pesquisa realizada em julho de 2008 pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), foi constatada que a principal preocupação de 43% dos brasileiros entrevistados é com a saúde.
 
E quando a busca pela saúde, por um corpo adequado aos padrões de beleza atuais e pela boa alimentação se torna uma obsessão?
 
Uma alteração de padrão alimentar recentemente descrita pelo médico americano Steven Bratman, especializado em Medicina Alternativa, é a Ortorexia, caracterizada por obsessão por comida natural.
 
Quem sofre deste distúrbio começa a limitar sua alimentação por meio da exclusão de itens como alimentos enlatados, artificiais, com agrotóxicos, com açúcar e outros.
 
O argumento principal dos que sofrem desta nova patologia é o de não prejudicar a saúde a qualquer preço.
 
O ato de limitar a ingestão de alimentos classificados por estes indivíduos como inadequados pode contribuir ao desenvolvimento de estágio patológico tal que o indivíduo julga a maior parte dos alimentos como desenvolvedores de doenças, levando a emagrecimento.
 
Este emagrecimento constante pode resultar, em muitos casos, em um quadro de Ortorexia Anoréxica.
 
Para Bianca Azevedo, coordenadora da consultoria em Nutrição da Sprim Brasil, multinacional especializada em Saúde e Nutrição, pessoas afetadas pela Ortorexia gastam grande parte de seus dias planejando suas refeições e esquecem de sua vida social.
 
Para garantir a qualidade desejada de seus alimentos, os ortorexos precisam de tempo. Em contrapartida, se tornam pouco sociáveis porque não conseguem falar sobre outros assuntos e porque julgam os hábitos alimentares alheios”, explica.
 
Os tipos de transtornos alimentares mais conhecidos são a Anorexia Nervosa e a Bulimia Nervosa, afetando principalmente adolescentes e adultos jovens do sexo feminino na faixa de 13 a 35 anos.
 
Esses transtornos são classificados como doenças psiquiátricas e têm conseqüências médicas graves face ao dano sistêmico que causam ao organismo.
 
Além disso, muitos doentes apresentam sintomas de depressão. A taxa de mortalidade observada varia de 5% a 15%.
 
De acordo com estudo publicado por Phillipa Hay, do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Adelaide, na Austrália, a Anorexia Nervosa ocorre entre 0,5% e 1% das adolescentes e adultas jovens.
 
Já na população geral, a incidência anual é de 18,5 casos em mulheres e 2,25 casos em homens para cada 100.000 indivíduos. Já a Bulimia Nervosa afeta de 1% a 3% das adolescentes e jovens.
 
A ocorrência de quadro bulímico em homens também é notada, com casos equivalendo a um décimo dos observados em mulheres.
 

Entendendo a doença
 
A anorexia, por definição, é a dificuldade de se alimentar por inapetência.
 
“Muitas patologias têm este sintoma mas, no caso da Anorexia Nervosa, não há um fator biológico desencadeador e sim fatores psicológicos”, explica Bianca.
 
De acordo com a nutricionista, as principais características desta doença são: a recusa em manter peso corpóreo mínimo para manutenção da saúde, o medo de ganhar peso, a distorção de sua própria imagem corporal (os doentes se acham gordos mesmo quando desnutridos) e nas mulheres, a ausência de três períodos menstruais consecutivos.
 
Tanto os anoréxicos quanto os ortorexos anoréxicos sofrem significativa perda de peso aliada à perda da saúde.
 
“Pela carência de nutrientes e energia, o organismo tenta se adaptar para minimizar os danos causados. Batimentos cardíacos, pressão e metabolismo ficam diminuídos, assim como a síntese de hormônios. É por isso que muitas das anoréxicas morrem por parada cardíaca; seus organismos não conseguem mais funcionar”, explica Bianca.
 
Por não se alimentarem direito ou por se alimentarem de porções inadequadas ao funcionamento mínimo do corpo, pessoas que sofrem de transtornos alimentares têm grande perda de nutrientes importantes.
 
A deficiência de vitaminas e minerais também pode causar problemas na imunidade e cicatrização, causando o ressecamento da pele, fragilidade nas unhas e cabelos quebradiços” esclarece a consultora em nutrição.
 
No caso das adolescentes, Bianca ressalta o prejuízo ao crescimento e ao desenvolvimento.
 
Para os adultos, completa, “as complicações clínicas são variadas e vão depender principalmente do grau de perda de peso”.
 
A Bulimia, por sua vez, é caracterizada pelo consumo compulsivo de alimentos seguido por algum método compensatório como vômito induzido, laxantes, diuréticos e até mesmo lavagem intestinal.
 
Para os bulímicos, a intenção da compensação é evitar o ganho de peso derivado do consumo excessivo de alimentos altamente calóricos e pouco nutritivos.
 
A auto-indução de vômito é observada em 80% a 90% dos doentes e causa problemas dentários, feridas na garganta e até inflamação do esôfago.
 
Geralmente têm peso adequado ou levemente acima ou abaixo do ideal.
 
A compulsão alimentar sem o método compensatório também é um tipo de transtorno alimentar.
 
Neste caso, a pessoa ingere grandes quantidades de alimentos em um curto período de tempo.
 
“Os que sofrem de compulsão alimentar sem método compensatório geralmente sentem vergonha após a ingestão de grandes quantidades de alimentos. Comumente estes pacientes são obesos, comem em isolamento e possuem outros distúrbios psicológicos associados”, define.
 
É preciso estar sempre atento ao que se come e tentar adaptar à rotina diária os hábitos alimentares saudáveis.
 
A consultora alerta ainda ao fato de pessoas próximas poderem auxiliar no diagnóstico desses distúrbios.
 
“A característica compulsiva observada em nós mesmos ou em alguém próximo deve ser sinalizada. Os distúrbios alimentares necessitam de cuidados médicos, nutricionais e psicológicos para que a cura seja atingida”, conclui a nutricionista.
 
 
 
 
 
 

Crédito:Luiz Affonso

Autor:Samantha Motta

Fonte:Universo da Mulher