Rio de Janeiro, 26 de Abril de 2024

Heroína: Profissão Cafetina

Antigamente as meninas queriam ser professoras quando crescessem. Entravam para o Instituto de Educação, para o Carmela Dutra ou outra escola que tivesse o curso Normal e, antes da aposentadoria, aos 25 anos de magistério, poderiam cair na cobiçada Letra “O” - ápice do funcionalismo - em que receberiam quase tanto quanto um procurador da Prefeitura do Rio, então Distrito Federal, capital da República.
 
 
Hoje, procurador recebe mais de R$ 15 mil por mês; professora, em final de carreira, R$ 1.200,00. Mesmo acumulando gratificações por cargos de chefia e, após faculdade de Pedagogia, se ficar como diretora por pelo menos dez anos, ganha em torno de R$ 2.300,00. Tudo bem: o trabalho enobrece. Mas o salário humilha.
 
Não é à toa que só continua no magistério a idealista, aquela que acredita na importância da educação pública. Ou, então, a desestimulada pela falta de recursos ou pela politicagem (que privilegia apadrinhados e nem sempre premia a competência). Essa se acomoda. Fica despreparada para outra atividade e rebaixa o nível de qualidade do ensino. Acaba contribuindo para elevar o número de candidatas a modelo-manequim, futuras garotas de programa ou, com sorte, cafetinas de sucesso.
 
É bem verdade que as faculdades estão cheias de moças a se preparar para as mais diversas profissões.
Na grande maioria, as futuras advogadas, médicas, dentistas etc.etc. cursaram colégios particulares. Mas a multidão obrigada a interromper os estudos nos antigos primário ou ginasial por conta de problemas agravados pela deseducação, desde a gravidez precoce aos constantes tiroteios, tem poucas opções para salários superiores ao mínimo.
 
Que o digam os 140 mil candidatos a gari, horas na fila de inscrição para o mais recente concurso da Comlurb, só para poderem se habilitar ao emprego de 600 e poucos reais.  Depois de passarem a madrugada inteira ao relento, dormindo enroscados como mendigos, ainda foram brindados com empurrões e cascudos pela Polícia Militar, ciosa com o dever de organizar a inscrição para a qual acabaram faltando formulários.
 
Andréia


Bruna

 
Sonhar não custa nada. Entre o pancadão de um e outro baile funk, milhares de garotas acalentam o delírio de ainda serem celebridade. Nem que para isso precisem dar uma de Bruna Surfistinha, entrevistada no Altas Horas da TV Globo,  ou  de Andréia Schwartz, condenada pela Justiça dos Estados Unidos por porte de drogas e por explorar a prostituição. Cafetinagem, em bom português. Chantageada pela turma de Eliot Ness, ela entregou o xará do antigo intocável. De bandeja.

Dedo duro do FBI, Andréia ajudou a derrubar o esquisito Eliot Spitzer, ex-governador do estado de Nova Iorque. E no sábado, 22, viveu momentos de glória ao voltar para São Paulo, viajando na primeira classe da American Air Lines, apesar de deportada, por obra e graça de Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus que, segundo ela, a ajudou. Com todo respeito.
 
 
A exemplo da alemã Christiane Vera Felscherinow, autora do autobiográfico Eu, Christiane F., 13 anos drogada e prostituída, e da nacional Bruna Surfistinha (*), O doce veneno do escorpião, com certeza Andréia vai virar livro e filme. A história  dela interessa muito mais que a de uma “tia” dedicada, moradora da Tijuca e professora em Santa Cruz, por exemplo. Dá Ibope. Ninguém se espante se ela pintar no Jô, na Hebe, na Luciana Jimenez e em assemelhados.
 
A consagração dessa “heroína” (royalties para o Pedro Bial, no BBB) está só começando. 
 

 

 


(*) Raquel Pacheco, conhecida como Bruna Surfistinha, lançou O Doce Veneno do Escorpião em 2005, contando suas experiências, digamos, mais picantes, como garota de programa. Vendeu 200 mil exemplares. No ano seguinte, atacou com O que aprendi com Bruna Surfistinha. Em 2007, lançou Na Cama com Bruna Surfistinha, dando dicas sobre sexo. Agora, as histórias mais calientes do primeiro livro vão virar peça de teatro, sob direção de Rubens Ewald Filho, segundo informou esta semana o produtor Charles Machado. “O público que se prepare, porque os atores vão fazer a platéia participar do espetáculo” – antecipa Charles.
 
 
Será que vai ser preciso levar camisinha para o teatro?
 
 
 
Quer saber mais?

 
 

Montbläät - Um Jornal para Entender o Brasil
Rio de Janeiro – 28 de março a 3 de abril de 2008
Edição Nº. 282 - ANO IV

 
 
 
 
 
 

 

Crédito:Luiz Affonso

Autor:Ruy Paneiro

Fonte:www.montblaat.com.br