Rio de Janeiro, 29 de Março de 2024

Meu Filho, Meu Tesouro

Criar um filho, não resta dúvida, é o maior investimento dos pais.
 
Em todos os sentidos.
 
Antes mesmo de nascer, ele já recebe afetos e cuidados e provoca gastos com consultas e exames pré-natais.
 
Depois, vêm o quartinho, o enxoval, o parto e tantas fraldas que, nos primeiros meses do bebê, você até pensará em se tornar sócio de uma fábrica de fraldas.

O tempo vai passando, e os gastos aumentam.
 
Surgem os brinquedos, a escola, as idas ao dentista, as viagens e muitas outras despesas.
 
Até que seu filho fique independente, você terá investido uma bolada. Não é fácil calcular quanto.
 
O valor varia de família para família e depende de fatores como renda familiar, cidade em que se mora, prioridades e estilo de vida.
 
Para fazer uma estimativa, CRESCER tomou como base a cidade de São Paulo, com a maior população e o mais alto custo de vida do Brasil.

Conversamos com economistas e consultores especializados em finanças domésticas.
 
Também anotamos preços de planos médicos, dentistas, clínicas de vacinação e escolas de idiomas.
 
No final das contas, chegamos à conclusão de que uma família paulistana de classe média, com renda entre R$ 5 mil e R$ 8 mil, gastará cerca de R$ 240 mil com as despesas do filho, do nascimento aos 15 anos.
 
O desembolso anual chegará, em média, a R$ 16 mil, o preço de um carro popular.
Não se assuste: esse dado é apenas uma estimativa sujeita a variações.
 
Serve como referência para quem planeja ter um bebê.
 
E porque o valor é tão alto, especialistas aconselham que os pais programem, desde cedo, uma reserva financeira.
 
"O ideal é começar a poupar dois anos antes do nascimento", ensina a administradora Betty Kilner, diretora do Financenter, o primeiro site brasileiro de finanças pessoais.
 
"Como o filho é um projeto vitalício, os pais têm de se preparar para essa realidade", acrescenta ela. Por isso, é recomendável guardar um pouquinho por mês.
 
Quanto?
 
"É difícil dizer, mas o ideal é que seja uma quantia fixa e que passe a constar do orçamento famíliar", sugere.
 
Educação Estimativa (R$)
Berçário/pré-escola (1 a 6 anos) 20 304
Escola 1 (7 a 10 anos) 11 568
Escola 2 (11 a 14 anos) 14 496
Curso de idiomas 3 094
Atividade esportiva 10 800
Transporte escolar 20 160
Material escolar 8 400
Total 88 822
 
Saúde Estimativa (R$)
Plano médico 23 400
Dentista 2 760
Vacinas 1 032
Total 27 192

Educação pesa mais

O casal César e Regina Padovan, pais de Jessika, 15 anos, seguiram a cartilha à risca. Desde que ela soube que estava grávida, abriram uma poupança para a filha. "Passamos por maus momentos, mas nunca mexemos nesse dinheiro", diz Regina. O gasto com a educação de Jessika foi o que mais pesou no bolso do casal.

A formação escolar dos filhos pode consumir quase 40% de tudo que é gasto com eles. "Além da mensalidade escolar, entram nessa conta livros, material escolar e transporte", explica o economista Luís Carlos Ewald, consultor da Fundação Getúlio Vargas e especialista em economia doméstica.

A mensalidade numa escola de classe média em São Paulo gira em torno de R$ 300, segundo a Ipso Consultores, empresa ligada ao Grupo Associação de Escolas Particulares, que reúne 45 colégios paulistanos. A esse valor devem ser somadas as despesas com aulas de esportes e de inglês. O curso completo de idiomas, com duração de sete semestres, sai por R$ 3 094. Tudo somado, o investimento em educação beira os R$ 90 mil.

 
Vestuário Estimativa (R$)
Fraldas 2 000
Roupas, calçados, acessórios, uniforme escolar, lençol, toalha, roupa de balé e judô 36 000
Total 38 000
 
Lazer e cultura Estimativa (R$)
Brinquedos 3 960
Cinema/teatro/parque de diversão 3 360
Viagens anuais 6 000
Viagem à Disney 2 500
Total 15 820

A conta da saúde

Manter o filho saudável também exige boa dose de investimentos. A dica é ter um plano médico que cubra as visitas ao pediatra e todas as despesas médicas imprevistas que as crianças costumam dar. Um plano básico, com direito a consultas, exames e internação em enfermaria, custa perto de R$ 130 por mês. As idas semestrais ao dentista, para limpeza, aplicação de flúor e mais três restaurações - esta é a média de cáries de uma criança brasileira de 12 anos, segundo o IBGE -, custarão quase R$ 2 800. "O tratamento preventivo, além de evitar cáries, é mais econômico", aconselha a odontopediatra paulista Sílvia Migdal Cohen. Torça para que seu filho não precise de um aparelho ortodôntico, com o qual os gastos quase triplicam. O preço médio desse tipo de tratamento não fica em menos de R$ 5 mil.

Para fechar a conta de saúde, é preciso incluir o valor da vacinação. Até completar 15 anos, o jovem deverá ter sido vacinado contra tuberculose, hepatite A e B, difteria, tétano, poliomielite, sarampo, caxumba, rubéola e catapora. Nas clínicas especializadas de São Paulo, essas vacinas saem por R$ 1 032. Considere o serviço público para economizar. Note que, além de todas essas despesas, você ainda terá gastos com remédios. A conta da farmácia é impossível de prever.

 
Alimentação Estimativa (R$)
Supermercado 26 100
Restaurante 3 600
Lanches na escola 5 000
Total 34 700
 
Outros Estimativa (R$)
Mobília do quarto, acessórios, enxoval 4 635
Babá (0 a 1 ano) 7 200
Aniversário em bufê (um ano sim, outro não) 7 000
Presentes (aniversário, Natal, Dia da Criança) 8 400
Mesada 8 400
Total 35 635

 

Roupa, fralda, comida

Não é fácil calcular o desembolso com alimentos. O economista Luís Carlos Ewald diz que é razoável estimar uma despesa de R$ 150 por mês, além de gastos extras, a partir dos 10 anos, com o lanche na escola - antes disso, nada como a boa lancheira para economizar. As idas ao restaurante, a partir dos 5 anos, também devem entrar no cálculo. Uma família com três pessoas gastará cerca de R$ 60 almoçando ou jantando numa casa de preços medianos, e um quarto desse valor caberá à criança. Por ano, ela consumirá R$ 360; até completar 15 anos, serão R$ 3 600.

As despesas com roupa também variam. O economista Ewald sugere reservar o equivalente a R$ 200 por mês para tudo que se refere a vestuário: de pijama a biquíni, passando por lençol, toalha, tênis, sapato, uniforme escolar, quimono de judô, roupa de balé, fantasia de São João, trajes de festa e acessórios (bolsas, cintos, brincos, piercing). Mas, antes de começar a usar tudo isso, seu filho gastará milhares de fraldas. Estimativas da Johnson & Johnson e da Procter & Gamble, dois grandes fabricantes, indicam que uma criança consome, em média, oito fraldas por dia. Feitas as contas, você terá desembolsado uns R$ 2 mil só com esse item.

 

Calcule você também

Para saber exatamente quanto vai custar seu filho, você pode recorrer a programas financeiros existentes na internet. O site da Financenter tem uma calculadora programada para fazer essa conta. Basta preencher os campos em branco com as principais despesas mensais e discriminar o período em que ocorrem. O resultado final serão as despesas que o seu filho vai lhe dar.

Brinquedos e lazer

No quesito lazer, esteja preparado para gastar com brinquedos e passeios, idas ao cinema, ao teatro, a parques de diversões, acampamentos de férias e viagens para a serra ou para a praia nos fins de semana.

Um gasto médio de R$ 30 por mês com carrinhos, jogos, bonecas e outros brinquedos para o seu filho se transformará, depois de dez anos, em R$ 3 960. A partir dessa idade, a criança já pode começar a receber uma mesada, e fica por conta dela administrar suas prioridades. O mais comum é começar com cerca de R$ 100 por mês, passar para R$ 150 aos 12 anos e chegar aos R$ 200 mensais, quando ele ou ela completar 14 anos.

Ainda no tópico diversão, reserve uma quantia para os gastos com viagens. Cerca de R$ 600 por ano são suficientes para os acampamentos de férias e fins de semana na serra ou na praia. A despesa maior, entretanto, será com a tão sonhada viagem à Disney. Os pacotes mais em conta custam por volta de R$ 2 500.

Para finalizar, não esqueça das festinhas de aniversário do seu filho. Não que você tenha que fazer sempre uma daquelas festanças, mas se, ano sim, ano não, você convidar os amiguinhos dele ou dela para se divertir num bufê, a estimativa é a de um gasto de R$ 7 mil. Ah!, e tem ainda os presentes de aniversário, Dia da Criança e Natal. "Para eles, é razoável calcular R$ 560 por ano", diz o economista Luís Carlos Ewald.

Tudo vale a pena

Com todas essas despesas na ponta do lápis, chegamos àqueles R$ 240 mil do início da reportagem. O valor assusta, mas tenha certeza de que compensa. O casal André e Cláudia Nersissian (ela, grávida de seis meses) não vê a hora de Gustavo nascer. O quarto já está pronto e o enxoval comprado - tudo pela "bagatela" de R$ 4 600. Precavidos, eles deixaram de trocar o carro e fizeram uma poupança extra, para os imprevistos. "Sei que não vai sair barato, mas a satisfação de ver seu primeiro sorriso, acompanhar seus primeiros passos e a alegria de quando ele passar no vestibular, tudo isso vai mostrar que nosso investimento terá valido a pena", afirma Cláudia. Ela tem toda razão.

 

Driblando os limites, quando o orçamento é curto

Todo mundo sabe que R$ 240 mil não se acham na esquina. Se o seu orçamento é apertado, não se desespere: dá para economizar e gastar bem menos com seu filho, sem comprometer o desenvolvimento e a felicidade dele. Veja as dicas:

No lugar de levar os amigos para comemorar o aniversário de seu filho num bufê, faça a festa em casa, com brigadeiro, suco, cachorro-quente e bolo de chocolate.

Se a escola particular é a sua opção, tente evitar os gastos paralelos. Colégio perto de casa economiza transporte, e o uso da biblioteca pública poupa despesas com livros, que você pode comprar também de segunda mão.

Na hora da diversão, procure nos jornais e revistas as ofertas de programas gratuitos. Dê preferência, também, a passeios ao parque e à praia.

Com saúde não é bom economizar, mas dá para pesquisar o melhor plano médico para o seu orçamento.

 

 

 

Jessika, 15 anos, tem uma poupança intocável, iniciada por seus pais, César e Regina Padovan, antes de ela nascer.

Crédito:Luiz Affonso

Autor:Ricardo Marques

Fonte:Universo da Mulher